Se você está lendo esse blog post, muito provavelmente é um empreendedor levantando capital ou um investidor considerando coinvestir conosco. Ambos buscam conhecer o que escrevemos e pensamos, como input na sua decisão de nos permitir investir na sua startup ou entrar no nosso pool de investidores, respectivamente.

Uma coisa entretanto é possivelmente comum aos 2 perfis: vocês não devem ter maiores preocupações com moradia. Pelo menos, não neste nível:

“Será que vou conseguir alugar (e depois pagar) um teto para a família já que não tenho como comprovar renda (sou informal), tenho fiador, seguro locatício ou depósito caução e/ou sou negativado … Tô com o nome sujo, por ter entrado no cheque especial, não conseguido pagar o cartão ou ter sido protestado por alguma inadimplência?”

E daí você entenderia, no fundo do estômago e da alma e não apenas racionalmente, que depois de se alimentar e dar de comer aos seus, a maior prioridade de um pai ou mãe é ter um teto sobre a cabeça e proporcionar moradia digna para sua família.

E você seria o público alvo de Alpop: negativados e informais que querem – precisam! – alugar, pois não podem comprar, não querem viver debaixo de um viaduto, mas não têm crédito ou qualquer instrumento de garantia – patrimônio, fiador, seguro fiança, cartão de crédito, depósito caução, etc.

Você faria parte de um mercado de locação popular, com um grande estoque de imóveis disponíveis para locação: dados Pnad Contínua 2019 reportados pelo Imobi Report mostram pouco mais de 13 milhões de domicílios alugados no Brasil. Em complemento, dados do Censo Demográfico 2010 apontam 10 milhões de unidades com aluguel até R$ 2.500,00 e um grande contingente de brasileiras e brasileiros negativados (62.56 milhões), com renda informal (42,7 milhões de informais) e autônomos (25,4 milhões de pessoas).

Os agentes de mercado – bancos e seguradoras- não estão dispostos a fazer o casamento entre essa oferta e essa demanda e com isso correr o risco de crédito da transação de locação.

Como Fintech é nicho central da nossa tese, sempre tivemos um olhar atento para as características do mercado de proptechs, em especial de locação: enorme mercado alvo, com fluxo financeiro recorrente (todo mês, SaaS-like) e substancial (em geral despesas com moradia está no topo do ranking de itens de orçamento domésticos). Diversas abordagens de disrupção ao mercado imobiliário já se comprovaram como enormes empresas alvo de investimentos de venture capital – entre elas QuintoAndar (imobiliária digital sem fiador), Loft (compra, reforma e revenda) e, mais recentemente, a CredPago (eliminação do fiador, vendida pelo BTG para a Loft).

O grande gap de proposição de valor das demais abordagens estava na questão do risco do não pagamento da locação. Como estratégias de mitigação de risco, elas fazem uso de produtos – caução, cartão de crédito, fiadores e seguro fiança, títulos de capitalização – que têm em comum perfis de relativo baixo risco, e, portanto, excluem do mercado pessoas negativadas e/ou com renda informal. Com isso, não apenas milhões de brasileiros são deixados de fora do mercado de locação formal, mas também imobiliárias deixam de capturar receita de aluguéis, proprietários deixam de monetizar seus imóveis e toda uma indústria da construção civil, principal empregadora, deixa de movimentar a economia.

Alpop se propõe a atacar tal questão de forma frontal. Ao invés de usar tais produtos, ela abraça o risco com intenso uso de big data e algoritmos de qualificação de crédito, tomando para si a aprovação cadastral, a modelagem jurídica para locação sem garantia, a iniciativa jurídica de ação de despejos e a dualidade do risco – eventuais perdas financeiras por inadimplência mas também sua contrapartida: a gestão dos recebívei$ e a remuneração mensal de um percentual sobre o valor de locação, condomínio e IPTU.

Ao centrar seu modelo de negócios na figura dos negativados e informais, a startup aplica tecnologia, processos e inteligência de forma focada em um “risco” que não é compreendido por mim ou por você que está lendo este memorando: a falta de um teto para morar. Ao conhecer o público-alvo – famílias inteiras de trabalhadores informais, negativados em geral por dívidas no cartão ou cheque especial – fica claro que, na sua Pirâmide de Maslow de prioridade, somente “alimentar meus filhos” vem antes da sua maior prioridade: “ter um teto para morar”.

No nosso radar e acompanhamento desde Out/21, a empresa nasceu a partir de um complexo processo de entendimento das dores de mercado conduzido dentro de uma empresa de tecnologia (Caiena), liderada pelo CEO e cofounder, Caio Belazzi, cientista da computação com mestrado em inteligência artificial pela Unesp. Durante sua jornada, ela passou ainda por um importante pivot ao mudar seu modelo de negócios de “imobiliária para negativados” para “fintech de crédito focada neste perfil de consumidores”, fazendo com que imobiliárias deixem de ser concorrentes para serem parceiros e canais de aquisição. Como resultado, os KPIs de contratos ativos e receita bruta tiveram forte crescimento – média de 5xs entre Mar/21 a 22 – EM PLENA PANDEMIA.

Um ponto que nos chamou atenção, e que passa grande segurança, está no fato de que a Caju – holding do CEO – está investindo no round. Num mar de startups queimando capital alheio (também conhecido como o seu, investidor, do inglês “other people’s money”), coinvestir com o próprio founder e CEO mostra um nível de alinhamento, skin in the reta e tomada de risco poucas vezes vista em rounds de venture capital.

Após a análise aprofundada que conduzimos em sinergia com experts no mercado (de seguros e tecnologia, mais info na seção Análise), decidimos liderar o round em Alpop como startup do nosso portifólio.

Convido você a conhecer mais sobre Alpop na matéria sobre a rodada no O Globo: